Empresas
investem mais na prevenção
Fonte: Andrea Giardino - Valor Online - 24.05.2006
As empresas estão começando a acordar para um problema real
no ambiente de trabalho que acarreta prejuízos diretos e indiretos às
corporações, o do uso de substâncias químicas pelos funcionários. Só nos Estados
Unidos, o custo anual com perdas patrimoniais, queda na produtividade e despesas
médicas é de mais de US$ 100 bilhões. Além disso, 40% de todos os acidentes de
trabalho estão relacionados ao consumo de drogas, álcool e tabaco.
Os dados alarmantes foram apresentados pela psicóloga americana Karen Garret,
diretora da River Region Human Services e professora da Nova University e do
Springfield College, em visita ao Brasil, semana passada. Durante seminário
realizado na Federação de Comércio de São Paulo, com apoio do Consulado Geral
dos Estados Unidos, ela ressaltou a importância dos programas de prevenção
corporativos.
"É necessário que as empresas adotem políticas consistentes ligadas à
recuperação dos funcionários", diz. Segundo Karen, entre as razões que têm
levado as companhias a se preocuparem com a questão estão a queda na
produtividade dos empregados. Pesquisas mostram que 30% dela fica comprometida
por problemas de dependência química. "Essas pessoas trabalham com 67% de sua
capacidade produtiva", afirma.
Outra má notícia. Funcionários envolvidos com drogas e álcool faltam 2,5 vezes
mais, chegam tarde 3 vezes mais e usam 5 vezes mais os serviços saúde - gerando
um custo maior para as empresas de 300%. O mais grave, na sua opinião, é que 67%
dos usuários de drogas estão empregados. "Os reflexos são muito perceptíveis e
causam grandes impactos financeiros para as organizações", diz Karen. E os
números não param por aí. Estudos reportam que mais de um terço dos funcionários
acidentados tinham usado maconha poucas horas antes do acidente e 16% dos que
sofreram acidentes graves haviam bebido.
Ainda de acordo com ela, o problema não se restringe à base da pirâmide. A
dependência química atinge o alto escalão, o que acaba se tornando uma situação
crítica para as empresas. "É complicado desenvolver uma ação de prevenção ou
apoio junto ao executivo, que geralmente não gosta de expor o problema. E ele é
uma figura importante, já que é o espelho de seus subordinados", explica Karen.
Muitos executivos acabam se tornando dependentes químicos, observa, por fatores
como estresse, pressão por resultados, sobrecarga de trabalho, falta de
reconhecimento e de "feedback" dos chefes.
Por outro lado, quem mais sofre com o problema é o setor de transporte de carga
e as companhias aéreas. No Brasil, essas empresas veêm como prioritário o
combate ao uso de álcool, principalmente pelo risco que pode representar um
motorista embriagado. Em algumas delas, o uso do bafômetro foi incorporado à
rotina de trabalho.
Na Transportadora Americana , por exemplo, todos os motoristas passam pelo
bafômetro antes de pegar a estrada. A empresa possui cerca de 2 mil funcionários
(entre registrados e prestadores de serviço). O teste do álcool é restrito aos
motoristas, mas testes toxicológicos são realizados uma vez por mês, por sorteio
aleatório. Todos os funcionários, do presidente ao porteiro, participam do
sorteio.
Segundo Izabel Cristina Marques, supervisora de responsabilidade social da
transportadora, o programa foi implantado há seis anos e de lá para cá alcançou
resultados bastante positivos. Em 2000, cerca de 3% dos motoristas eram pegos no
teste do bafômetro. Agora, esse índice não ultrapassa 0,05%. No entanto, o
programa não possui caráter punitivo. "Se ele for flagrado no bafômetro, será
substituído naquele dia e encaminhado para a psicóloga", conta.
Testes toxicológicos, inclusive, são uma prática usual em algumas empresas
brasileiras. Em geral, eles são feitos na admissão ou por sorteio entre os
empregados. A Embraer adota os testes em seus programas de prevenção. E não são
só os empregados que passam por eles. Os co-dependentes também. Quem se submeter
ao tratamento terá os custos financiados pela empresa. Além da Embraer e da
Transportadora Americana, outras empresas criaram programas de prevenção e
tratamento de dependentes químicos no país como a Sabesp , Goodyear , Pão de
Açúcar , CPTM e Petrobras .
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