Fonte: Valor OnLine - 19/12/2005
Insatisfeitos, jovens profissionais vão atrás de novas oportunidades no mercado.
São Paulo/SP - O que mais tem tirado o sono
dos executivos e feito muitos deles sair à procura de um novo trabalho,
mesmo estando empregados e satisfeitos com o atual pacote de benefícios,
é a falta de perspectiva de ascenção na carreira.
O que antes era preocupação de quem estava numa fase mais madura da
vida, hoje incomoda profissionais na faixa dos 30 e poucos anos, em
especial, os mais graduados e de nível gerencial. Nem a dificuldade de
relacionamento com os chefes tem um efeito tão desestimulante para eles
quanto o fato de não verem perspectivas de chegar ao "board" da
companhia.
Esses dados fazem parte de uma pesquisa realizada com 120 presidentes,
diretores, coordenadores e gerentes de grandes empresas do país
realizada pela Career Center, consultoria especializada em planejamento
de carreira e pela 2BB Brasil, entre abril e outubro deste ano. O
levantamento cedido com exclusividade ao Valor mostra que 59% dos
entrevistados estão em busca de uma nova posição no mercado porque têm
dificuldade de ascenção profissional onde atuam. Eles querem mais
oportunidades de crescimento. A insatisfação com o pacote de benefícios
ficou em segundo plano aparecendo em 23% das respostas, seguida de
problemas de relacionamento com o superior (7%), ausência de desafios na
função (5%), segurança e instabilidade (3%) e não identificação com os
valores da empresa (2%).
As fusões e aquisições da década de 90 criaram um novo vínculo entre
profissionais e empresas. Por um lado, as companhias passaram a não
oferecer mais a estabilidade de décadas passadas e os empregados, por
sua vez, decidiram guiar seu futuro. "Isso fez com que as pessoas da
geração que está hoje com 30/40 anos ficassem muito mais focadas na
carreira, pensando por conta própria", diz Sami Boulos, consultor do
Career Center. "As pessoas também começaram a chegar a cargos altos mais
cedo, o que fez esses profissionais se sentirem mais pressionados para
subir logo", diz Luciana Sarkosy, sócia do Career Center.
Marcelo Salm, 35 anos, estava há cinco anos trabalhando como analista de
marketing e negócios em uma grande multinacional quando decidiu dar uma
guinada na carreira. "Estava cansado de ver as pessoas sendo promovidas
por tempo de casa e não por competência", conta. Ele também não via a
empresa crescer, o que limitava a criação de novas vagas. Decidiu então
buscar o aconselhamento de carreira profissional e acionar,
discretamente, seus contatos no mercado.
Salm acredita que a questão da idade pesou em sua decisão de ir à luta e
procurar um novo trabalho. "Eu tinha 34 anos, não podia me aventurar e
entrar numa trilha errada onde ficasse difícil voltar", diz. "Não queria
perder o "timing" de fazer essa mudança". Ele acabou arranjando uma nova
colocação como supervisor estratégico na BV Financeira, do grupo
Votorantim. "Sei que competência é um critério subjetivo, mas agora vejo
mais perspectivas de crescer já que os negócios da companhia estão
aumentando. Me sinto mais motivado".
No emprego anterior, Salm teria que competir com outros sete analistas
para chegar a uma única posição de supervisor. No novo, ele já ingressou
com esse cargo. "Existe sempre um afunilamento quanto mais se sobe na
pirâmide", lembra Luciana Sarkosy. "Um analista tem mais oportunidade de
crescer que um gerente, e assim por diante". Isto talvez explique porque
a pesquisa indica que os mais insatisfeitos em relação à falta de
perspectiva de ascenção sejam os gerentes (67%) contra 50% dos
coordenadores. Vale lembrar, entretanto, que essa questão aparece como
uma preocupação para profissionais de todos os níveis, incluindo
presidentes e diretores (47%).
Um dado interessante do levantamento é que a insatisfação com o pacote
de benefícios é maior entre os coordenadores, 45% deles disseram que
este era um motivo para quererem mudar de emprego. "É uma preocupação
natural, uma vez que quanto maior o nível hierárquico, maior o uso de
benefícios para reter os talentos", diz Sami Boulos, do Career Center.
O salário, entretanto, não é o que mais motiva a troca de emprego para a
maioria dos entrevistados. Quando Maurício Grabrieli, 34 anos, trocou um
emprego de sete anos em uma consultoria internacional para trabalhar em
uma pequena multinacional que iniciava as atividades no país, ele não
recebeu um centavo a mais no pacote de remuneração. "Mas eu era
supervisor e fui contratado como gerente com a promessa de chegar a
diretor em três anos", diz.
Passados quatro anos, a promoção não chegou. Ele não teve dúvidas e
optou por buscar uma nova oportunidade no mercado. Conseguiu um emprego
em outra consultoria internacional, com o mesmo salário e cargo. Durante
o tempo em que preparou essa mudança, Maurício investiu na sua
atualização profissional. Foi estudar inglês em Cambridge, na
Inglaterra, fez o MBA na Fundação Getúlio Vargas, no Rio. "Nunca fiquei
parado", conta.
A pesquisa mostra que a inquietação com a falta de perspectiva
profissional sobe proporcionalmente ao grau de escolaridade dos
entrevistados. Quanto mais preparados, mais eles buscam oportunidades de
ascenção na carreira, e não encontrando, pensam em sair do trabalho.
Isso é válido para 59% dos que possuem pós-graduação e 56% dos que
cursaram um MBA. "Quem está mais preocupado com o crescimento na
empresa, no geral, investiu mais na formação e viu que só isso não havia
garantido sua promoção", diz Luciana Sarkozy.
Os executivos que decidiram buscar um novo emprego, no geral, chegaram à
conclusão que onde trabalhavam nada estava para acontecer. "Eles fizeram
uma leitura dos sinais, um diagnóstico", diz a consultora. Foi o que fez
Andrea Canizares, 34 anos, ao decidir sair da companhia onde atuava como
trader há sete anos. "Eu queria ser gerente de produtos", lembra. Ao se
dar conta que os desafios oferecidos em sua função não aconteciam na
velocidade que ela esperava, decidiu procurar uma nova colocação fora.
Começou então um trabalho de detetive. Mapeou as oportunidades do
mercado e descobriu onde existiam possibilidades de contratação. "Fui na
cara de pau e me candidatei", conta. A ousadia foi compensada. Acabou
sendo contratada por um grande banco de investimentos internacional para
ocupar a tão sonhada gerência de produto.
Encontrar um lugar ao sol em outra companhia é o sonho de quem resolve
desbravar seu próprio caminho, mas as mudanças devem ser planejadas com
cuidado. "Quem arrisca mudar pode estar abrindo mão de um passado", diz
Maurício Gabrieli. "A empresa onde você está por um longo período te
conhece, na nova você terá que abrir seu espaço e essa fase de adaptação
pode prejudicar sua carreira"
Stela Campos
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